Saiba por que a caixa-preta é uma ferramenta essencial para aviação

Apesar de usar tecnologia antiga, o aparelho é crucial para ajudar a determinar causas de acidentes aéreos e evitá-los

Por: Redação Revista Embarque com BBC - 28 de dezembro de 2016

A caixa-preta dos aviações tem cores berrantes (Foto: divulgação)

A caixa preta é uma ferramenta eficaz e essencial para o avião, pois ela armazena informações cruciais para desvendar o mistério por trás de acidentes aéreos e ajudar a evita-lós.

Apesar do nome, uma caixa-preta precisa ter cores brilhantes para ser mais facilmente localizada. Esses aparelhos têm o tamanho de uma caixa de sapatos,  pesam cerca de 3kg a 5kg e custam US$ 60 mil por unidade.

Normamente, elas ficam localizadas na cauda da aeronave – o que, em teoria, as deixam mais protegidas em caso de impacto – e são equipadas com um localizador. O dispositivo pode funcionar por até 90 dias e em profundidades de até 6 mil metros, no caso de acidentes envolvendo água.

As aeronaves carregam dois tipos de gravador. O primeiro é registrad dados de voo – 88 leituras diferentes (altitude e velocidade em relação ao solo, por exemplo) durante as últimas 25 horas de voo. Já o outro  aparelho que grava as últimas duas horas de conversa entre a tripulação, bem como sons ambientes.

Curiosamente, os dois gravadores são de cor laranja para serem mais fáceis de serem encontradas. A cor preta na nomenclatura pode ter vindo do fato de que as caixas por vezes são queimadas por chamas. Outra especulação é que o termo caixa-preta vem dos anos 1940, quando os aparelhos usavam filme fotográfico e, por isso, precisavam ser escuros no interior.

“Indestrutíveis”
Cada gravador de dados de voo conta com hardware protegido por uma “couraça”. Sensores ao longo da fuselagem do avião acumulam dados e enviam para um aparelho intermediário, chamado unidade de aquisição de dados de voo, que então os envia para serem armazenados nos chips de memória da caixa-preta.

Os gravadores de voz funcionam de maneira semelhante. Microfones no cockpit captam o áudio e o enviam para chips de memória.

As caixas-pretas são projetadas para proteger seu “cérebro” – as placas de memória com os dados – e por isso ficam em um compartimento de alumínio revestido por quase 3cm de material isolante, que suporta altas temperaturas, e um estojo externo de titânio ou aço. O pacote é submetido a testes rigorosos, pois precisa sobreviver a um desastre de avião – mais especificamente a impactos de mais de 3.400 vezes a força da gravidade, além de uma hora sob temperaturas de até 1.100 graus Celsius.

Elas também têm capacidade para resistir 30 dias em água salgada, são resistentes à gasolina de avião e a cinco minutos sob pressão de 351 toneladas por centímetro quadrado. Isso não significa que os gravadores sejam indestrutíveis, mas eles são recuperados mais frequentemente do que não, e por isso continuam sendo usados.

Uma necessidade  

Esses aparelhos surgiram na década de 1950, quando viagens aéreas se tornaram um pouco mais comuns e criaram a necessidade de coletar informações sobre voos.

As caixas-pretas mudaram um bocado desde que as autoridades americanas exigiram seu uso em voos, em 1958, após uma série de acidentes envolvendo o De Havilland Comet, o primeiro grande avião comercial de passageiros.

As aeronaves estavam quebrando em pleno ar por causa das mudanças de pressão sobre a fuselagem durante o voo e, embora investigadores britânicos conseguissem descobrir a causa dos acidentes fazendo testes em aviões intactos, estava claro que mais informações eram necessárias.

A partir dos anos 1980, graças à evolução tecnológica, ficou mais simples coletar um volume de informação muito maior que outrora por conta da informatização. Graças ao advento de gravadores do tipo solid state, que armazenam informações em lotes de chips, sem necessidade de partes móveis, este volume ampliado de informação ficou também mais seguro.

Modernização

Fazer mudanças nos procedimentos da indústria da aviação é complicado por uma série de fatores. A National Transportation Safety Board (NTSB), por exemplo, desde a década passada recomenda o uso de câmeras no cockpit, mas sindicatos de pilotos se opõem, alegando que isso fere a privacidade dos pilotos – em especial o fato de que, em caso de acidente, as famílias poderiam ver o vídeo da morte de seus entes queridos divulgado publicamente.

Mas a Organização Internacional para a Aviação Civil (OACI) recentemente adotou novos padrões que a partir de 2018 recomendam a companhias aéreas a monitorar suas aeronaves a cada 15 minutos em situações normais de voo e a cada minuto em casos de emergências a partir de 2021.

Algumas companhias  já começaram a fazer testes por conta própria. A Qatar Airlines, por exemplo, planeja adotar um sistema de transmissão total de dados de voo e a Airbus está negociando com autoridades de aviação na Europa a adoção de caixas-pretas ejetáveis.

 

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Redação Revista Embarque

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