Pesquisadores criam sistema para gestão da fadiga em controladores de tráfego aéreo

A fadiga contribui para 20 % dos casos de acidentes e incidentes no ar.

Por: Agência Bori - 14 de julho de 2025

Torre de controle ao fundo, responsável pela complexa operação aeroportuária

Pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) e da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) desenvolveram uma ferramenta computacional dedicada ao monitoramento preventivo da fadiga em contextos críticos, como no caso de controladores de tráfego aéreo. O sistema se dedica ao monitoramento de dados em tempo real, com estratégias adaptativas de gestão de risco baseadas em evidências científicas e operacionais.

Parâmetros como carga de trabalho, tempo de atuação e fatores individuais são considerados, em um estudo que contribui para uma mudança de paradigma: da abordagem reativa — em que a fadiga é percebida apenas após incidentes — para uma abordagem preditiva e preventiva capaz de acompanhar a transição da fadiga aguda para a crônica, algo ainda não contemplado por sistemas internacionais. Os resultados foram publicados na revista Production, em 11 de julho.

A pesquisa envolveu as áreas de engenharia, ciência da computação e psicologia do trabalho, voltadas a desenvolver uma ferramenta capaz de avaliar os riscos associados à fadiga humana no controle do tráfego aéreo do Primeiro Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle do Tráfego Aéreo (Cindacta I), em Brasília (DF).

O protótipo passou por oito especialistas em um teste de aceitação que seguiu as quatro fases clássicas de um Fatigue Risk Management System (FRMS): preparação, testes, implementação piloto e melhoria contínua. “A receptividade da proposta por especialistas da área foi muito positiva, o que reforça a relevância da pesquisa. Ficamos satisfeitos por termos conseguido unir teoria, prática e tecnologia em um modelo com potencial de aplicação real”, aponta o Rodrigo Pereira Gomes, autor do estudo.

A ferramenta integra o monitoramento em tempo real a um processo sistemático de avaliação de risco, que se adapta à natureza dinâmica da fadiga — preenchendo uma lacuna percebida pelos cientistas. Apesar de a fadiga humana ser um fator contribuinte para 20% de todos os incidentes e acidentes no ar, segundo pesquisas conduzidas pelo governo dos Estados Unidos, Gomes aponta que ainda existem poucos mecanismos sistematizados para incorporá-la como variável quantitativa nos processos de decisão.

A expectativa é de que o estudo contribua para ambientes de trabalho mais seguros e saudáveis, reduzindo riscos de erro por exaustão; para políticas públicas, ao oferecer um modelo que pode subsidiar diretrizes mais robustas de prevenção e gestão da fadiga; e para a ciência, ao avançar no diálogo entre engenharia, ciências humanas e computação aplicada, abrindo caminho para pesquisas multidisciplinares e práticas baseadas em evidências. “A proposta da ferramenta não substitui o julgamento humano, mas o complementa, oferecendo um suporte estratégico à tomada de decisão e à construção de políticas institucionais mais seguras”, afirma Gomes.

Os próximos passos envolvem monitorar Indicadores de Desempenho de Segurança (SPI), integrar o sistema ao Sigcea (Sistema de Informações Gerências do Subsistema de Segurança Operacional no Controle do Espaço Aéreo) e a outras plataformas do setor, além de realizar testes em ambientes simulados ou reais, em parceria com instituições que atuam no setor aéreo.

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Redação Revista Embarque

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