A eleita no combate à tuberculose

A tuberculose, também conhecida como tísica pulmonar ou “doença do peito”, é uma doença ligada à história da humanidade. No antigo Egito, 3.700 anos antes de Cristo foram encontradas sequelas de tuberculose

15 de abril de 2013

A tuberculose, também conhecida como tísica pulmonar ou “doença do peito”, é uma doença ligada à história da humanidade. No antigo Egito, 3.700 anos antes de Cristo foram encontradas sequelas de tuberculose em múmias. A sua descoberta ao mundo aconteceu em 1882, quando o médico alemão Robert Koch descobriu o bacilo que hoje tem o seu sobrenome. Segundo registros históricos, a tuberculose matou 30% da população da Europa durante a Revolução Industrial (1780-1830).

O Brasil ocupa a 17ª posição entre os 22 países com maior risco de tuberculose no mundo. Cerca de um milhão de brasileiros morrem anualmente em decorrência de tuberculose, quarta doença infecciosa que mais mata no país e a primeira causa de morte por doença identificada entre pessoas com HIV. Dados globais revelam que um terço da população do planeta está infectada. Ao todo, 5,8 milhões de novos casos foram notificados em 2011.

Mas diante deste cenário, Guarulhos tem uma boa notícia: a cidade está abaixo das médias estadual e nacional. O município possui hoje 31,4 casos para cada 100 mil habitantes, contra 38 no Estado de São Paulo e 36,1 no País.

Neste ano, a cidade foi convidada pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) para participar de um programa-piloto que definirá estratégias para o controle de tuberculose em grandes cidades da América Latina. Também integrarão o projeto Lima (Peru) e Bogotá (Colômbia). “O Brasil tem um programa muito forte de combate à tuberculose, no qual Guarulhos se destaca positivamente. A cidade hoje oferece acompanha-mento observado aos pacientes, identifica suas populações de risco e se utiliza de estratégias para tratar a doença”, ressaltou a coordenadora da OPAS, Mirtha Del Granado.

Ela destacou que o compro-misso político da cidade em re-duzir as desigualdades sociais nas regiões mais pobres, que são as que mais sofrem com a tuberculose, é outro fato que faz a diferença.

O programa-piloto está em fase de desenvolvimento. A OPAS está em contato perma-nente com as equipes da Secretaria Municipal de Saúde para colher informações mais de-talhadas sobre a cobertura de Saneamento Básico em Guaru-lhos, a metodologia de identificação dos doentes de tuberculose, em que se incluem grupos de risco como pessoas infecta-das pelo HIV e a população carcerária, e até o tratamento de imigrantes, como bolivianos e paraguaios que vivem na cidade.

Del Granado disse que hoje existem 50 mil casos não identificados da doença em toda a América Latina, que podem levar a 30 mil óbitos por falta de tratamento.

O projeto em Guarulhos iniciará no bairro dos Pimentas, na Região de Saúde IV, ainda não há data, e se o modelo der certo será implementado em todo o Brasil.

Estudo do Ministério da Saúde mostra que 66% dos casos de tuberculose notificados em 2012 acometeram homens.
Quanto à faixa etária, a frequência maior da doença ocorre entre 25 e 34 anos, em ambos sexos. Quanto à escolaridade, 58,2% dos casos novos tinham até oito anos de estudo.

Outro dado preocupante é que, no ano passado, apenas 53,3% dos pacientes com tuberculose no País fizeram o teste
para detectar a doença. A co-ordenadora do Programa de Controle da Tuberculose da cidade de Guarulhos, a enfermeira Noemi de Lima, falou com a Revista Aérea alertou que é fundamental fazer um diagnóstico precoce. “A tuberculose tem cura, mas o tratamento ocorre só nos serviços públicos, ou seja, o remédio não é vendido em
farmácias, é distribuído nos Postos de Saúde”, conta.

Ela disse que o tratamento dura seis meses, os pacientes se medicam diariamente e realizam o que é chamado de “Tratamento Supervisionado”, que é assistido por um funcionário.
Só durante os fins de semana, o remédio fica com o paciente e, em alguns casos concretos, os funcionários podem levar o remédio até a casa.

Noemi explica que esse sistema é implantado em todo o País porque é uma recomendação do Programa Nacional de Controle da Tuberculose.Em Guarulhos existem 70 Unidades Básicas de Saúde (UBS) que realizam o diagnóstico e tratamento da doença. Segundo Noemi, normalmente os pacientes chegam com tosse que persiste durante, no mínimo, três semanas. “Nesta situação, o médico toma uma mostra do catarro e envia ao laboratório.

Também pode realizar raios-X do tórax. As pessoas não sabem que a tuberculose, embora ataque sobretudo os pulmões, também pode ser extra-pulmonar. Existe tuberculose urinária, ocular, etc. O médico percebe que a doença é tuberculose quando a infecção não desaparece com antibiótico comum e realiza mais provas”.

Boa notícia!

O Ministério da Saúde vai disponibilizar, gratuitamente, na rede pública, um teste rápido para diagnóstico de tuberculose com capacidade de detectar a presença do bacilo causador da doença em apenas duas horas. O Gene Xpert, como é denominado, também identifica se a pessoa tem resistência ao antibiótico rifampicina, usado no tratamento da doença. O anúncio foi feito pelo Ministério da Saúde, em solenidade que marcou o Dia Mundial de Luta contra a Tuberculose, no dia 24 de março. Para a implementação da nova tecnologia no Sistema Único de Saúde (SUS), o Ministério está investindo R$ 12,6 milhões.

O Gene Xpert, que já está em funcionamento nas cidades do Rio de Janeiro e Manaus desde o ano passado, será implantado em todos os municípios.

A doença romântica do século

Escritores, revolucionários, atores, pintores, cineastas, pensadores, filósofos, reis, diretores e cantores foram alvo da tuberculose. A fama não ajudou as inúmeras personalidades que foram vítimas da doença. O revolucionário venezuelano, Simón Bolivar, e o escritor britânico George Orwell, autor do livro 1984, que inspirou o conceito de “reality show” na televisão, são alguns exemplos.

A turberculose também atingiu o renomado poeta paulistano, Álvares de Azevedo, da segunda geração do Romantismo brasileiro. Ele adquiriu obsessão pela temática da morte, fato que foi refletido em seus escritos. O poeta morreu jovem, com 21 anos, em 1852. Os integrantes da tendência do romantismo levavam vidas boêmias e desregradas, o que os levava a contrair a doença.

As histórias de vampiros, do famoso escritor Edgar Allan Poe, também se devem à aparência pálida causada pela tuberculose.

Contudo, nem sempre a doença foi vinculada a um ar sombrio. No início do século XIX, se construiu uma concepção romântica da tuberculose, que passou a ser chama-da de “A doença do amor” ou “romântica do século”, pois afetava a pessoas novas, delicadas, sensíveis e pobres.

No cinema, a tuberculose adquiriu um papel protagonista sendo a doença que matou a personagem Satine, interpretada por Nicole Kidman, no filme Moulin Rouge.

No universo das artes plásticas, o quadro O Grito, do pintor norueguês, Edvard Munch (1863-1944), que ex-pressa a angústia existencial do autor, pode ter origem na tuberculose, que matou a mãe e a irmã do pintor quando ele era criança, marcando sua infância e influenciando suas obras.

Texto de Viviane Barbosa, editora da Revista Aérea, com a colaboração de Ana Abril

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Redação Revista Embarque

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