Conheça o trabalho do CENIPA na investigação de acidentes aéreos

O avião é um dos meios de transporte mais seguro que existe.

10 de novembro de 2021

O trágico acidente aéreo que ceifou a vida da jovem talentosa cantora sertaneja, Marília Mendonça, do piloto da aeronave, Geraldo Martins de Medeiros Júnior, do copiloto,Tarciso Pessoa Viana,  do produtor musical, Henrique Ribeiro e do tio da artista, Abicieli Silveira Dias Filho ocorrido no último dia (5) causou forte comoção nacional. O tema também chama atenção do público que quer saber o que motivou a queda do Beechcraft King Air C90, na cidade de Caratinga, em Minas Gerais. Importante neste momento é consultar fontes seguras e que tenham autoridade e especialidade para abordar o assunto.

Reportagem da Aerovisão, Revista da Força Aérea Brasileira, esclarece a importância do órgão que investiga no Brasil todo tipo de acidente aeronáutico civil e militar: o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA), que é ligado ao Comando da Aeronáutica responsável.

Assinada pela Tenente Jornalista Cristiane dos Santos, a matéria explica que o CENIPA utiliza, desde 2006, o Laboratório de Leitura e Análise de Dados de Gravadores de Voo (LABDATA), um dos setores mais estratégicos do Centro. “Além disso, é uma peça fundamental na preservação do bem mais precioso que existe: a vida humana”, cita trecho da matéria. (foto: Fotos de Caixas Pretas –  Revista Aerovisão)

O espaço possui equipamentos específicos e equipes técnicas especializadas, visando ao alcance da capacidade de leitura das famosas caixas-pretas. Poucos laboratórios no mundo possuem essa capacidade, especialmente nos cenários de obtenção de dados de equipamentos danificados. Na América do Sul, o brasileiro é o único com tamanha qualificação.

A matéria esclarece que o  avião é um dos meios de transporte mais seguro que existe. “Com um rigoroso controle de tráfego aéreo, radares, instruções rígidas, informações sobre as condições do voo, tecnologias avançadas e frotas cada vez mais modernas, a probabilidade de um acidente aeronáutico é cada vez menor. Ainda assim, quando acontece, é iniciado um processo investigatório, com finalidades não punitivas e sem o objetivo de apontar culpa ou responsabilização. O objetivo, nesse sentido, é a prevenção de outros acidentes e incidentes na aviação civil e militar, por meio da identificação dos fatores que tenham contribuído, direta ou indiretamente, para a ocorrência”, cita a jornalista.

AVIAÇÃO CIVIL INTERNACIONAL 

A reportagem explica que a metodologia de tais investigações é fundamentada em compromissos firmados a partir da Convenção sobre Aviação Civil Internacional, também conhecida como Convenção de Chicago, ocorrida em 1944, quando o Estado brasileiro passou a buscar, em seu contexto interno, regras de aviação alinhadas às propostas da Organização de Aviação Civil Internacional (OACI).

Nesse contexto, e paralelamente, o Código Brasileiro de Aeronáutica estabelece que compete ao Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SIPAER) planejar, orientar,
coordenar, controlar e executar as atividades de investigação e de prevenção de acidentes aeronáuticos.

O CENIPA, órgão central e normativo do SIPAER, tem a missão de promover a prevenção de tais acidentes aeronáuticos. De acordo com o Chefe do LABDATA, Coronel Aviador Adriano Barbosa Maia, a investigação de acidentes aeronáuticos tem importância valiosa para a sociedade brasileira.

“O resultado final proporciona recomendações de segurança em forma de lições aprendidas, visando a procedimentos aeronáuticos mais seguros, evitando novas ocorrências semelhantes e impactando na melhoria dos índices de segurança de voo no País, seja na aviação civil ou militar”, afirma.

QUAIS SÃO AS FASES DE INVESTIGAÇÃO DE UM ACIDENTE AÉREO

A pergunta é recorrente quando ocorre um acidente de avião. No entanto, responder a essa indagação só é possível depois de realizada a investigação, que é composta por três fases: coleta de
dados, análise dos dados e apresentação dos resultados. A coleta de dados é a primeira fase da investigação, na qual uma equipe multidisciplinar se desloca até o local da ocorrência com o
objetivo de levantar informações para análise. Dentre os vários materiais coletados, a depender da aeronave, os investigadores podem também lançar mão dos gravadores de voo. Embora
nem todas as aeronaves possuam tais dispositivos, quando presentes, a busca por tais equipamentos se torna um dos objetivos principais da fase de coleta de dados.

LABDATA
As famosas “caixas-pretas”, conforme suas possibilidades de volume e de precisão de informações, contribuem sobremaneira para a elucidação dos acontecimentos anteriores ao acidente.
Por muito tempo, o Brasil dependeu de serviços de leitura e análise de dados de gravadores de voo de outros países.

Entretanto, com o intuito de aperfeiçoar os processos investigativos aeronáuticos do Estado brasileiro, desde 2006, o CENIPA conta com o Laboratório de Leitura e Análise de Dados de  Gravadores de Voo (LABDATA). O espaço possui equipamentos específicos e equipes técnicas especializadas, que possibilitam a análise de dados em gravadores, mesmo que estejam severamente danificados. Atualmente, poucos laboratórios possuem tal capacidade no mundo.

Na América do Sul, o LABDATA é o único com tamanha qualificação. Com isso, os dados são apresentados para análise, em formatos gráficos ou por meio de animações, os quais auxiliam os investigadores na compreensão do evento e, consequentemente, na produção das recomendações adequadas de segurança.

TECNOLOGIAS

Uma das características que torna mais complexa a atividade de leitura e análise de gravadores de voo é a ininterrupta evolução tecnológica inerente à atividade aérea. Desse modo, o LABDATA busca, recorrentemente, novas tecnologias embarcadas, aquisição de novos equipamentos, bem como o aperfeiçoamento contínuo de seus recursos humanos. O analista de dados de gravadores de voo com conhecimento em engenharia eletrônica, Sargento Felipe Marques Gomes, explica que a extração das memórias exige muita atenção, para que nada seja ainda mais danificado. “Usamos
microscópios que permitem observar as placas de vários ângulos sem ao menos tocarmos nelas. Ainda assim, usamos luvas e jalecos antiestáticos, sempre com o objetivo de resguardar as informações em qualquer dispositivo que possa contribuir para elucidar a ocorrência”, explica.

O analista esclarece, ainda, que os cuidados são redobrados quando um gravador esteve submerso em água. “O processo de oxidação se inicia no exato momento em que se retira o equipamento da água, ao entrar em contato com o ar. Então, a partir das características do gravador, utilizamos fornos específicos para a secagem dos componentes eletrônicos, sempre buscando preservar os dados”, complementa.

Além de fornos e microscópios com tecnologias avançadas para a extração de dados, o LABDATA passou a utilizar mais recentemente a animação em realidade virtual do acidente em três
dimensões (3D), a qual permite a visualização externa e interna da aeronave, mostrando a sequência de voo realizada com base na leitura de cruzamento de dados dos diversos sistemas de
voo. Por meio dela, os investigadores conseguem visualizar a trajetória da aeronave, a velocidade desenvolvida, o caminho percorrido, a altitude alcançada, a atuação dos comandos de voo,
o funcionamento dos sistemas, além de ouvir as conversas realizadas na cabine de comando.

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Redação Revista Embarque

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