Modelo de rotulagem de alimentos pode confundir consumidor
É o que concluem pesquisadores das universidades federais de Minas Gerais e do Paraná em estudo publicado na “Frontiers in Nutrition”
26 de agosto de 2022
Importante fonte de informação para o consumidor sobre produtos alimentícios, os rótulos de alimentos comercializados no Brasil ganharão um novo modelo a partir de outubro. Segundo determinação da Anvisa, opções que tiverem quantidades excessivas de sódio, açúcares adicionados e/ou gordura saturada terão essas informações destacadas por meio de um ícone de lupa. Apesar disso, a presença de alegações nutricionais (como “rico em vitaminas”) podem confundir o consumidor. É o que concluem pesquisadores das universidades federais de Minas Gerais e do Paraná em estudo publicado na “Frontiers in Nutrition” no último dia (22). (Foto: Marcos Santos/USP Imagens)
Para avaliar a interação entre selos e alegações, os cientistas fizeram um experimento com 720 participantes, expondo-os a diferentes tipos de rótulos. A ideia era testar três tipos de selos: o octógono bem-sucedido no Chile, o modelo da lupa a ser implementado no Brasil e o modelo de triângulo proposto mas não aceito pela Anvisa, além de um grupo controle que não teve a exibição de alertas. Foram escolhidos produtos de três categorias (barras de cereal, biscoitos integrais e lanches do tipo snack), com um ou dois nutrientes em excesso e com alegações nutricionais (ora presentes, ora ausentes).
Após a exposição aos diferentes rótulos, os participantes deveriam responder a perguntas sobre nutrientes em excesso, sobre o grau de saudabilidade do alimento (em uma escala de 1 a 7 — de “não saudável” a “muito saudável”) e sobre sua intenção de compra do produto. Também foram feitas questões sobre o interesse de cada participante em manter uma alimentação saudável.
Os resultados indicaram que a presença de selos é melhor que a ausência deles: facilita a compreensão das informações nutricionais do produto pelo consumidor, além de reduzir a percepção de saudabilidade do alimento bem como a intenção de compra. “Na comparação entre os diferentes tipos de selos, os modelos de octógono e triângulo foram mais eficazes do que o modelo de lupa adotado pela Anvisa na redução da percepção de saudabilidade dos alimentos com dois nutrientes em excesso “, diz Sarah Morais, uma das autoras do estudo. “Isso pode ser explicado pelo fato de que o octógono e o triângulo são símbolos mais familiares para os consumidores e, em geral, transmitem a ideia de alerta.” Além disso, a exibição de dois alertas em um mesmo rótulo (indicando excesso em dois nutrientes) foi mais eficaz do que uma única exibição da lupa destacando as mesmas informações.
Apesar dos efeitos positivos dos alertas, sua presença não foi capaz de cancelar a ideia de positividade trazida pelas alegações nutricionais. A pesquisadora explica que ambos — selos e alegações — têm impacto na escolha do consumidor, mas funcionam de forma independente um do outro. “Enquanto o selo pode indicar que o alimento tem alto teor de gordura saturada, por exemplo, uma alegação pode destacar uma redução em sódio, o que poderia causar certa confusão no consumidor”, diz.
As alegações também tiveram efeito sobre os participantes do estudo: reduziram sua compreensão das informações nutricionais, aumentaram a percepção de saudabilidade dos alimentos e, no caso dos biscoitos e snacks, também aumentaram a intenção de compra.
O estudo mostra que, embora a rotulagem a ser adotada em outubro não tenha obtido os melhores resultados no estudo, a presença dos selos gera benefícios ao consumidor, principalmente em seu entendimento e julgamento sobre percepção da saudabilidade do produto e em sua intenção de compra. O tema, no entanto, deve ser investigado de forma mais detalhada para que se esclareçam as possíveis mudanças no comportamento do consumidor ao interagir com a rotulagem.
Redação Revista Embarque
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